Contexto

Lançado em 2017 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), o projeto Cozinha & Voz nasceu de uma iniciativa para formar tecnicamente pessoas que estavam fora do mercado formal de trabalho e em situação de exclusão socioeconômica.

O projeto conta com uma parceria voluntária da chef Paola Carosella, que apoiou o desenvolvimento de um currículo profissional básico em assistente de cozinha, que pode ser compreendido por, inclusive, pessoas com baixa escolaridade, com ensino fundamental incompleto.

O projeto focou em uma área onde não há a exigência de escolaridade mais elevada e, ao mesmo tempo, com grandes possibilidades de contratações, como é o caso de um profissional assistente de cozinha, que, também, possui algumas vantagens importantes trabalhistas como piso salarial maior que o mínimo, refeições no local e em muitos casos seguro saúde e odontológico. No processo de construção do curso, percebeu-se que uma das maiores dificuldades do público era a comunicação e a autoestima.

Por exemplo, por vezes, durante entrevistas de emprego, as pessoas trans não conseguiam se expressar, ou durante o período de experiência tinham dificuldade no relacionamento ou no cumprimento de normas básicas. Cabe ressaltar que esse padrão se repete também em outros grupos vulneráveis beneficiados pelo projeto.

Episódios como esse, fundamentalmente, refletem uma exclusão histórica. Desde a mais tenra idade das pessoas trans que as impede de ter uma vivência social integrada e compreender os símbolos e regras inclusive do mercado de trabalho, além de ter a tendência a acreditar que aqueles espaços não lhe pertencem.

Para fazer frente a esse desafio, o curso incluiu o módulo intitulado Voz, coordenado pela atriz e poeta Elisa Lucinda e pela atriz e diretora Geovana Pires, da Casa Poema, responsáveis pela construção da metodologia de trabalho com foco na comunicação e expressão.

Em 2020, a crise causada pela pandemia e seus graves impactos sociais, na saúde e na economia, colocaram em evidência vulnerabilidades, exclusões e desigualdades que já existiam antes da COVID-19. No mundo do trabalho, esses efeitos atingiram de forma mais grave pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, incluindo aquelas com empregos menos protegidos e com baixos salários. Nesse contexto, é fundamental centrar esforços em grupos historicamente excluídos por conta de preconceito e discriminação em razão de características ou condições, como nacionalidade, raça/cor, da sua orientação sexual e identidade de gênero.

Com o início da pandemia em 2020, a OIT e o MPT adotaram uma estratégia digital para auxiliar e manter a preparação profissional e o suporte emocional de uma população extremamente vulnerável: pessoas trans e travestis que, como muitas pessoas, foram duramente afetadas pela pandemia e tiveram suas rendas reduzidas ou perdidas. A metodologia do curso presencial foi adaptada para a modalidade online, ministrada por meio de uma ferramenta de videoconferência. Assim, surgiu o web Cozinha&Voz, que contou com o apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).

A OIT tem sua missão histórica de promover o trabalho decente que só pode ser concretizado em uma sociedade onde todas as pessoas sejam livres para existir em toda sua identidade e potencialidade. As pessoas do grupo LGBTI+, especialmente as pessoas transexuais, são excluídas historicamente, o que torna sua inserção e permanência no trabalho mais difícil. A sociedade ganha com a inclusão de trabalhadores e trabalhadoras livres para exercer sua profissão, com criatividade e direitos.

Com o retorno das atividades em segurança, o curso voltou a ser promovido no formato presencial, mas valendo-se do aprendizado da pandemia para incluir módulos online e ampliar os conteúdos de aprendizagem.

Duração prevista

A nova fase tem previsão até 2023.

Objetivo geral

Promover a capacitação profissional e a empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, em especial pessoas trans, atravessadas pelas interseccionalidades de gênero e raça.

Objetivos específicos

Promover a capacitação profissional como assistente de cozinha, o ingresso e permanência no mercado de trabalho formal, e aperfeiçoar a inteligência emocional e a comunicação interpessoal de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Grupos-alvo

Pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e de exclusão do mercado de trabalho, como a população LGBTQIA+, em especial homens e mulheres trans e travestis, , pessoas negras, quilombolas e pessoas egressas do sistema penal.

Estratégia de implementação

O Cozinha&Voz está estruturado em dois componentes técnicos, cruciais para o alcance dos objetivos do projeto. O componente “Cozinha” conta com a chef Paola Carosella, que é a coordenadora técnica e responsável por revisar e apoiar a metodologia dos cursos, e com o apoio de Neide Rigo e outras profissionais convidadas. As aulas ensinam as aptidões básicas requeridas para o trabalho em uma cozinha de restaurante, como manipulação de resíduos, estocagem de alimentos, técnicas para o preparo de saladas, peixes, frango, carne e legumes, além de limpeza e postura.

Coordenado pela atriz e poeta Elisa Lucinda e pela atriz e diretora Geovana Pires, da Casa Poema, o componente “Voz” é composto por oficinas, nas quais alunos, alunes e alunas, por meio da poesia, desenvolvem e aperfeiçoam a inteligência emocional, a autoconfiança e a comunicação interpessoal, como habilidades a serem utilizadas no trabalho e na vida, como por exemplo, uma entrevista de emprego ou uma apresentação em público.

O curso dura cerca de dois meses. O Projeto mobiliza ainda empresas para apoiar na empregabilidade das(os) egressas(os) do curso, uma das fases mais difíceis, já que é impossível garantir uma vaga de trabalho. Cada edição busca articular com organizações locais de empregadores e com grupos de empresas ou associações para aumentar as possibilidades de emprego.

É importante destacar a parceria com o SEBRAE, que ofereceu curso de empreendedorismo, já que boa parte das pessoas mencionaram que queriam ser autônomas. Outro ponto de destaque foram as reuniões com empresas e a ABRASEL para apresentar o projeto e gerar o interesse na contratação de pessoas egressas do Cozinha&Voz, mesmo durante a pandemia.

A partir de 2021, o projeto PRIDE ampliou a metodologia Cozinha&Voz, por meio de uma abordagem dirigida às pessoas LGBTQIA+.
Desde o lançamento, o projeto Cozinha&Voz avançou pelo Brasil e formou mais de 584 pessoas em diversas regiões do país. Deste total, 362 pessoas compareceram ao projeto presencialmente entre 2017 a 2019 e em 2022, e 180 pessoas o assistiram virtualmente em sua versão web entre 2020 e 2021.

Cerca de 70% das pessoas que participaram do Cozinha&Voz estão empregadas em empresas ou montaram o próprio negócio no setor de gastronomia.

2017:
São Paulo (SP)

2018:
Comunidade do Calabar, Salvador (BA)
Goiânia (GO)
Campo Grande (MS)
São Paulo (SP)

2019:
Porto Velho (RO)
Rio de Janeiro (RJ)

2020:
Cozinha&Voz Web (3 turmas)

2021:
Cozinha&Voz Web

2022:
Maragogipe (BA)
Guianases (SP)
Rio de Janeiro (RJ)

ODS relacionados ao projeto

Este projeto contribui para atingir os seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 no Brasil:

• ODS 5 (Igualdade de gênero)
• ODS 8 (Trabalho decente e Crescimento econômico)
• ODS 10 (Redução das desigualdades)
• ODS 17 (Parcerias e meios de implementação)

Localidade e/ou países de implementação

Nacional

Parceiros institucionais

Ministério Público do Trabalho
Casa Poema
Chef Paola Carosella
SENAI

Unidade e coordenador(a) responsável:

Promoção de pessoas em situação de Vulnerabilidade e PRIDE.

Recursos de comunicação