OIT promove capacitações e debates sobre gestão comunitária para produtores agrícolas no Mato Grosso

Valentim Martinotto é um dos beneficiários: após 30 anos tirando seu sustento da terra, ele agora sonha em aumentar sua renda produzindo polpas de frutas para geleias e doces.

Notícias | 24 de Novembro de 2016
© Valentim sonha com os benefícios que podem ser gerados para a comunidade através do processamento de frutas (Foto: Simone Ponce/OIT).
O uso da despolpadeira – máquina de extração da polpa de frutas – para beneficiar e agregar valor aos alimentos é um desejo antigo dos moradores de Cangas, distrito localizado no Sul de Mato Grosso. Apesar da instalação ter sido inaugurada na comunidade pela prefeitura de Poconé em janeiro, ela estava inativa devido à falta de treinamento técnico para os produtores locais aprenderem a utilizá-la.

O produtor Valentim Martinotto vive a 500 metros da unidade de processamento e tira seu sustento da terra há mais de 30 anos. Em setembro, ele passou a ver seu sonho de fabricar geleias e doces com o auxílio da agroindústria se tornar real após o início de uma série de capacitações sobre processamento de frutas e verduras, realizada em Cangas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Central de Associações da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Município de Poconé (CAAFESP). Desde então, já foram realizadas três oficinas e ainda há mais um evento de formação técnica previsto para acontecer no começo de dezembro.

Valentim participou de todos os treinamentos oferecidos pela OIT até agora. Para ele, as atividades foram importantes para promover a troca de conhecimentos e informações na comunidade: "Os eventos fortalecem o vínculo entre as associações, que passam a se encontrar mais vezes para discutir os assuntos coletivos de forma participativa, e o conhecimento dos consultores ajuda a direcionar o trabalho, abrindo novos horizontes para a comunidade".

A gestão comunitária da unidade de processamento é uma conquista em termos de união e do resgate da autoestima dos trabalhadores de Poconé. Com a produção de goiaba, manga e banana, Valentim sustentou sua família e educou os quatro filhos, três engenheiros agrônomos e uma especialista em tecnologia em alimentos. Ele acredita que a agroindústria deve incrementar os ganhos e os lucros dos produtores da região, pois o processamento de frutas agrega valor aos alimentos, que não serão ingeridos apenas in natura. "Vai faltar doceira para consumir a minha produção", afirma.

© A unidade de processamento em Cangas será gerida de forma participativa pelas associações locais (Foto: Simone Ponce/OIT).
A demanda pelas capacitações surgiu da própria CAAFESP. O contato com a OIT começou no Distrito Nossa Senhora do Chumbo, próximo a Cangas, onde o Programa Ação Integrada realizou atividades de fortalecimento comunitário com o apoio de vários parceiros, como a OIT, a Comissão Pastoral da Terra e o Centro Burnier Fé e Justiça. Na última oficina, realizada no dia 19 de novembro com a comunidade de Jijum, em Cangas, os produtores discutiram de forma participativa o modelo de gestão para a unidade de processamento.

O evento também contou com a participação da Associação de Mulheres Rurais Fruto do Vale (AMFRUVALE), do município de Tangará da Serra (MT), e promoveu a troca de experiências com a apresentação de projetos de associativismo e cooperativismo. Em Tangará da Serra, a comunidade se envolveu de forma espontânea com a prática da economia solidária. Dessa maneira, a organização coletiva fortaleceu as capacidades locais e atualmente os trabalhadores conseguem gerar renda a partir de atividades agrícolas.

A produtora rural Dalva Cristina do Nascimento, que participa da AMFRUVALE e confecciona artesanato com fibra de bananeira, expressa sua satisfação ao poder expor os resultados das iniciativas de economia solidária: "É uma alegria poder visitar esta região de natureza tão rica e, além disso, conhecer os produtores, falar sobre as boas práticas que desenvolvemos em Tangará da Serra, como a organização da AMFRUVALE e a iniciativa dos Fundos Rotativos de Economia Solidária, que possibilita à comunidade financiar seus próprios projetos".

Para a consultora da OIT, Simone Ponce, “as oficinas de formação técnica favorecem o empoderamento comunitário, uma vez que os produtores passam a enxergar o trabalho colaborativo como solução para geração de renda. Além disto, por meio de ações de desenvolvimento social, famílias são estimuladas a produzir e processar os alimentos em seu local de origem, agregando valor aos produtos e reduzindo a atuação de intermediários. É um exercício de busca por novos caminhos que tem como objetivo a sustentabilidade das comunidades”.

Fonte: Forest Comunicação (Assessoria do Programa da OIT de Combate ao Trabalho Forçado)